Em meio às mortes suspeitas na Rússia, por que Navalny, dirigente da oposição, continua vivo? Para especialistas ouvidos pela Jovem Pan, questionamento é bastante instigante,
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Publicado em 25/08/2023

A queda do avião em que o líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgueny Prigozhin, estava e sua provável morte, na quarta-feira, 23, gera especulações sobre a causa do acidente, uma vez que as circunstâncias parecem indefinidas. As redes sociais russas, próximas da oposição ou ligadas ao grupo, concordaram com as primeiras análises dos centros de pesquisa ocidentais, para quem a vida do incontrolável mercenário estava por um fio desde o motim em junho. “Não importa as razões pelas quais o avião caiu, o mundo inteiro verá um ato de vingança e retaliação. O Kremlin não vai contestar esta visão”, disse Tatiana Stanovaya, fundadora da consultoria R. Politik. Na manhã desta quinta, as autoridades russas ainda não divulgaram nenhuma pista. As investigações senguem em aberto e, por enquanto, nem o Kremlin, nem o Ministério da Defesa fizeram quaisquer declarações.

 

O acidente envolvendo a aeronave em que Prigozhin estava não é o único caso que chama atenção na Rússia. Desde que a Rússia invadiu à Ucrânia em fevereiro de 2022, algumas mortes repentinas foram questionadas. Kristina Baikova, vice-presidente do Loko-Bank, caiu do 11º andar de um prédio em Moscou, e o milionário Pavel Antov, despencou da sacada do quarto em que estava hospedado na Índia. Foram encontrados mortos em suas casas — alguns juntos à família — Yuri Voronov, ligado à Gazprom, empresa estatal da área de energia, Sergei Protosenya, ex-vice-presidente da empresa de gás natural Novatek; o multimilionário Vladislav Avayev, Leonid Schulman, diretor da Gazprom; o milionário Mikhail Watford; Vasily Melnikov, dono de uma empresa do setor médico; e o bilionário Alexander Subboti. Alexander Tyulyakov, também ligado à Gazprom, foi encontrado enforcado nos arredores de São Petersburgo. Andrei Krukovsky, diretor-geral do resort de ski de Krasnaya Polyana, caiu de um penhasco na fortaleza de Aczipsinskoy.

 

Essas mortes geram o questionamento: por que o líder de oposição Alexei Navalny ainda não morreu? Para o cientista político Leandro Consentino, essa é uma pergunta bastante instigante. “Acho que é uma tentativa de equilíbrio do Vladimir Putin de se livrar de opositores e, ao mesmo tempo, não querer que todos morram para que não passe a imagem que muitos já tem dele de que não há possibilidade de fazer oposição na Rússia”, disse, acrescentando que Navalny acaba sendo um escape de salvo-conduto para garantir que o Estado não termina com seus opositores. “Mas serve de alerta a quem quiser se opor ao Putin de que algo pode acontecer de grave como Prigozhin.” Valdir da Silva Bezerra, mestre em relações internacionais pela Universidade Estatal de São Petersburgo, pontua que, diferentemente dos demais que morreram, o político e advogado adquiriu notoriedade internacional bastante significativa ao longo dos últimos anos. “Isso pode ser um dos fatores que explicaria a relativa cautela com a qual o Kremlin decidiu tratar do caso dele e uma das razões pelas quais ele continua vivo.” O advogado tem um grau de simpatia e popularidade que angariou internacionalmente por conta de sua oposição a Putin e à corrupção na Rússia. “Esse capital reputacional não é encontrado em demais opositores do governo, que eram geralmente pouco conhecidos antes de serem vítimas de atentados suspeitos”, fala Bezerra.

 

Imagem de chefe do Grupo Wagner

 

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